Assumir em público determinadas coisas, mesmo para quem tem um padrão de comportamento absolutamente “baunilha”, ou seja, que não causaria espanto a ninguém, ainda é, ou pode ser, uma tarefa difícil. Dizer que gosta disto ou daquilo em público, ainda que se saiba que quase todo mundo gosta do mesmo, pode ser constrangedor. Por exemplo: masturbação. Será que a maioria das pessoas que procura pornografia na internet, nos canais de TV paga , ou locadoras de filmes só estão interessadas nas entrevistas?
Mas se você escreve em seu Twitter ou Facebook que acabou de fazer amor consigo mesmo, sabe que vai ter represálias. As pessoas, pelo jeito, não se sentem bem com seus pequenos e até modestos segredos, e não querem e nem aceitam que você se sinta bem com os seus.
Sexo verbal, ou com “desconhecidos” do mundo virtual, é uma destas categorias. É meio embaraçoso dizer que conheceu alguém numa sala de bate-papo e que começou a desenvolver uma relação mais íntima. É aquilo que os amigos diriam, compartilhando muito! OU seja: “Faça, mas fique com isso pra você”. E eu indago: por quê? O que há de errado em tatear com suas palavras, com sua língua, a ideia do corpo alheio?
A ideia de que conhecer alguém em uma “balada” (não me acostumo com esse termo; balada, pra mim, é música lenta) com som muito alto, poucas luzes piscando e sem conseguir trocar cinco palavras me parece completamente inviável. O que chamará a atenção neste cenário? A altura, o tamanho do peito e da bunda, a qualidade das roupas e adereços, a capacidade de seduzir ou de ser atirado? Bom, nada disso é impossível para um mau-caráter que vá frequentemente à academia ou a uma carreirista/interesseira/piriguete. Os anjos e os demônios, assim como os gatos, na noite são pardos.Sem um texto conduzindo a história, só com as imagens, parece que a superficialidade é o universo possível e bastante. Ela leiloando seus apetrechos na pista e ele competindo pela melhor prenda.
Tá bom, estou exagerando: amor acontece até em boates. Mas é muito mais difícil que dê certo, que vingue, algo que começou assim. Quando é em um batizado, aniversário, velório, seja lá o que for, em que um amigo apresenta uma prima ou uma amiga para outro amigo, a coisa tende a ir melhor. É sempre bom lembrar que psicopatas podem ter corpos lindos e dançar muito bem. Se bem que podem ser mestres na arte de mentir, ao vivo ou virtualmente. É um risco constante.
A internet possibilita que o texto seja o primeiro atrativo. Eu imagino que na rádio, ou escrevendo aqui, eu possa me tornar muito mais interessante do que me chacoalhando em uma pista. Assim como eu, uma multidão. No mundo virtual, primeiro você conhece a forma como a pessoa usa a língua, as palavras. Percebe as nuances em suas sentenças, a profundidade de suas orações. Intui seus melhores períodos. Identifica o sujeito e seus predicados.
Há também aquele momento fatídico: “Como você é?” E aí você passeia pelo corpo da pessoa, em pensamento, tendo ela como guia. Claro que esta imagem estará cheia de imperfeições, distorções, mentirinhas. Mas as mulheres não vão ao cabeleireiro para serem mais sinceras, acredite.
Homens podem, em sua versão escrita, apresentar também uma sofisticação ou riqueza de conteúdo que sua versão real, em permanente rascunho, não a deixaria antever.
Não estou dizendo que exista muita mentira e decepção no mundo virtual. Nem estou falando de salas de sexo em chats. Mas observando que ao ler o blog, Twitter, Facebook de alguém, você pode ter uma boa noção do quanto lhe interessa a versão escrita, teórica, virtual, a ponto de saber se vale a pena aquele nickname em uma pessoa e encontro reais. Estou falando do que pode dar certo.
Amor é uma palavra; sexo é um encadeamento delas. As palavras constroem o mundo dentro de nossa cabeça. Podem, também, encher as coisas de significado ou causar decepções profundas e, do nada, destruir amores eternos. Eu aposto nelas. Mais do que nos decotes ou na qualidade do beijo, como início de uma aproximação.
E aí? Sexo verbal faz a sua cabeça?
A coluna do Leo Jaime é publicada às sextas-feiras.
Fonte:http://gnt.globo.com/comportamento/leo-jaime/O-relacionamento-virtual-pode-ser-mais-atraente-do-que-o-convencional-.shtml
Achei interessante esse texto,resolvi posta-lo aqui na integra pois hoje em dia as coisas estão se tornando tão virtuais ,que é bom parar e pensar a respeito.
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